Dirigido por James Guun, 'O Esquadrão Suicida' (2021) é um filme da Warner que busca se desvincular de seu antecessor lançado em 2016. Com elenco e direção renovados, o novo longa traz uma visão da equipe muito mais sarcástica e condizente com a própria proposta, sem deixar de se levar minimamente a sério.
Roteiro
O roteiro é relativamente simples: O Esquadrão está em um ponto 'A' de uma cidade Sul americana chamada Corto Maltese, e precisa chegar ao ponto 'B', onde irão destruir um gigantesco laboratório que abriga um mostro extraterrestre e todos os arquivos relacionados ao mesmo. Existe também, de pano de fundo, uma situação política delicada de um recente golpe de estado, e quem assumi o país é um anti-americano. Por isso a preocupação de Argus e Amanda Waller; líder da Força Tarefa X.
O que vale de mais importante nesse filme é a capacidade de divertir o espectador ao mesmo tempo que conta bem a história. Todos os personagens são extremamente carismáticos, e as piadas são muito boas; todas elas. O primeiro ato do filme lembra um pouco 'Deadpool' em certo ponto, mas conforme o enredo vai ficando mais recheado existe uma preocupação de inserir um pouco mais de seriedade sem perder o bom humor; humor esse que varia entre piadas mais leves e mais pesadas, mas sempre encaixada de forma inteligente.
'O Esquadrão Suicida' possui uma singularidade ímpar em conseguir fazer tudo o que propõem de maneira eficiente, engraçada e relativamente emotiva.
O longa introduz seus personagens de forma brilhante. Arlequina (Margot Robbie) dispensa apresentação, mas outros ainda desconhecidos do público como Bloodsport (Idris Alba), Pacificador (John Cena), Ratcatcher (Daniela Melchior) e o próprio Tubarão, conquistam rapidamente sua simpatia com pouco tempo de tela e uma química interessante e bem sucedida entre eles em diálogos mais emotivos que vão ocorrendo.
O protagonismo está bem distribuído, e apesar da Arlequina ter um maior apelo inicial pelo público, James Guun não concentra todo filme nela, e joga boa parte da responsabilidade do longa em Bloodsport e Ratcatcher, criando uma relação entre os dois quase que de pai e filha.
Numa cajadada só
James Guun mistura os "estados de espírito" do filme de forma bem diferente e que funciona. No começo temos aquele tom que parece não se levar muito a sério, esse humor é mantido mas, em seguida, surge um peso mais dramático, conforme os personagens se desenvolvem. No terceiro ato do longa existe uma pegada otimista que condiz com a equipe em si (por todos serem meio malucos), mas que não contrasta com o número de morte de inocentes e das circunstâncias como um todo. Isso não é um aspecto negativo, pelo contrário, corresponde muito com o que já vinha sendo apresentado e com a psique do grupo.
No mesmo ato se encontra também uma espécie de redenção dos personagens, principalmente do Bloodsport, e um ar nostálgico e reconciliador com o passado por parte da Ratcatcher, que possui um tom meio 'Pixar' , e que surpreendentemente funciona.
Harley Quinn, ao final, ganha um ar poético que beira a insanidade perante as circunstâncias, fazendo jus a sua loucura e maneira de ver as coisas; é como se fosse visto a situação à sua maneira.
Um ponto muito positivo é que o roteiro não se preocupa muito em dizer com o que aconteceu com cada um dos personagens depois. Esse é o ar e a ideia da equipe, todos são plenamente descartáveis, e Guun entende isso desde o começo.
A atuação dos atores é ótima, Bloodsport está excelente e possivelmente até ganhará mais destaque nos quadrinhos de agora em diante. Vale lembrar a participação de Alice Braga no filme, atriz brasileira e que manda muito bem.
O filme ganha mais pontos por fazer leves críticas principalmente aos Estados Unidos e sua relação geopolítica e coloca um limite moral até mesmo para O Esquadrão Suicida, ou seja, ao final da história, a impressão que fica é que os membros do Esquadrão são os heróis e as políticas e o pensamento protecionista estadunidense é o real vilão.
Considerações Finais
'O Esquadrão Suicida' é um dos melhores filmes da DC, guardada as propostas de cada um. Tudo o que ele se propõem a fazer ele faz com maestria, saldando a real ideia da equipe desde lá das HQs. Um longa divertido, frenético, emotivo e com temas atuais e que tem a capacidade de colocar o espectador em reflexão mesmo com sua temática humorística e sarcástica.