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Opinião | A Marvel não está em crise, mas nós estamos

Reportagem da Variety e trailer de ‘The Marvels’ não parecem à toa

Geraldo Campos 07 de nov. de 2023Atualizado em 07 de nov. de 2023

Que as coisas não vão muito bem para a Marvel Studios, não é muito segredo. Na semana passada, a Variety publicou uma reportagem completa, com o título Crise na Marvel: planos alternativos para Jonathan Majors, refilmagens de ‘The Marvels’, revivendo os vingadores originais e mais problemas revelados. Para uma manchete grande como essa é porque as coisas realmente não estão boas para a ‘casa das ideias’, mas será mesmo?  

No momento, a maior apreensão da Marvel é quanto ao lançamento de ‘The Marvels’. As expectativas de bilheteria para o filme não são boas, e a estimativa de arrecadação para a semana de estreia é de U$S 50 milhões a US$ 75 milhões na América do Norte; números considerados baixos para padrão MCU. Para efeito comparativo, Guardiões da Galáxia Vol. 3 arrecadou US$ 114 milhões na abertura.

Com isso em vista, a Marvel está tentando emplacar novas estratégias de marketing e buscando um “novo” direcionamento do universo cinematográfico. Três dias antes do lançamento de ‘The Marvels’, no que pode ser considerada uma tentativa desesperada de levar os fãs aos cinemas, o longa ganha um trailer com apelo nostálgico ao mostrar grandes eventos de “Vingadores: Ultimato”. O primeiro personagem em cena, obviamente, é o Homem de Ferro e, para fechar, uma silhueta misteriosa, que os internautas indicam ser a Tempestade dos X-Men; possivelmente da antiga Fox.

Na mesma reportagem da Variety, porém, o jornal revela que o estúdio cogita trazer os antigos Vingadores de volta, incluindo Tony Stark, com Robert Downey Jr., e Viúva Negra, de Scarlett Johansson. É de se pensar nessas informações que aparecem assim, de repente, perto do lançamento de um filme, dizendo que a Marvel quer trazer antigos personagem e, do nada, um trailer mostrando todos eles - fica parecendo que é de caso pensado, e que a imprensa é só um braço dessas empresas para medir a temperatura do público. 

Vamos seguir uma cronologia? A reportagem saiu no dia 1 de novembro. Dia 6 sai o trailer com Homem de Ferro, Capitão América, Thanos e assim vai. Será que não é interessante para a Marvel soltar essas informações para a mídia, que conquistam a manchete dos jornais? Quem são os espertos, afinal? 

É verdade que, neste instante, a empresa surfa no sucesso da segunda temporada de “Loki”, mas depois de consecutivos fracassos, como “Invasão Secreta”. Procurando contornar a situação, a Marvel anunciou o selo “Marvel Spotlight”, que promete trazer produções mais independentes da cronologia do MCU, cujo nome de estreia é a série “Echo”. E como a personagem não tem muito apelo do público mesmo sendo introduzida em “Gavião Arqueiro”, resolveram colocar uma classificação +18 anos. É uma lógica de tentar vender o todo pela parte. Me explico.

Não é de hoje que existe uma espécie de fetiche nas produções do MCU. Atualmente, o grande barato é a deixa da cena pós-créditos para “o que vai acontecer no próximo filme tal”. Quem se lembra, realmente, de “Cavaleiro da Lua” ou de até mesmo de “Doutor Estranho 2”? A obra se resume aos 30 segundos do gancho e, se este for bom, podemos até esquecer que o filme ou série em si é de mediano para baixo. 

Por outro lado, a própria série “Echo”, que se diz “independente”, já revelou a participação do Demolidor e do Rei do Crime, além da própria protagonista, que são personagens apresentados em outras séries da cosmologia Marvel. Ou seja, ela é independente do que exatamente? Ela não estaria repetindo a mesma parte pelo todo, assim como as demais produções, mas desta vez em uma nova roupagem? A ideia continua sendo a mesma, que você, espectador, se obrigue a assistir tudo, mesmo que não seja de forma declarada. 

Personagens a Marvel tem, bem como grandes roteiristas e exemplos das HQs. Histórias não faltam. É bom lembrarmos que Homem de Ferro, lançado em 2008, foi feito por um estúdio independente. Obviamente que eles queriam lucrar com o filme, mas a diferença é que a Disney demonstra só querer isso, ao invés de criar boas histórias, contadas com zelo e respeito ao espectador. Aliás, queremos que as empresas tenham lucro porque queremos mais filmes, filmes bons, um bom entretenimento, e não um copia e cola de 200 milhões de dólares e marketing barato.