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Indiana Jones | Conheça a trajetória do maior arqueólogo dos cinemas

Da mente de George Lucas e pelas mãos de Steven Spielberg

Geraldo Campos10 de jul. de 2023Atualizado em 11 de jul. de 2023

Quando se fala em filme de aventura e caça ao tesouro, sem dúvidas Indianas Jones é um dos primeiros personagens que vem à lembrança. Idealizado por George Lucas, o filme acabou saindo do papel pelas mãos de ninguém menos que Steven Spielberg, e logo de cara foi um sucesso. À época, produzido pela LucasFilm e distribuído pela Paramount, é impressionante como os longas resistiram ao tempo, e mais do que nunca são capazes de despertar adrenalina, emocionar e tirar boas risadas. 

“Isso deveria ir a um museu”

Indiana Jones: Os Caçadores da Arca Perdida, foi lançado originalmente em 1981; ano em que Harrison Ford, quem dá vida à Indy, já era conhecido por interpretar Han Solo na saga Star Wars. 

É difícil não criar empatia logo na primeira cena do filme. Arqueólogo de respostas sagazes e trejeitos inconfundíveis, Ford traz toda uma aura para o personagem que o acompanhará até o final da franquia. Em paralelo, Spielberg, nos primeiros minutos de película, cria uma tensão que só um diretor de mão cheia poderia fazer, imortalizada pela corrida do protagonista para escapar a bola de pedra gigante na iminência de esmagá-lo. 

Só aí há outro ponto curioso, pois a pedra gigante, feita de madeira, fibra de vidro e gesso, realmente existiu, e Ford fugiu dela sem ajuda de dublê, conforme revelou o diretor em um artigo do American Cinematographer, de 2017. A rocha pesava cerca de 130 quilos e o recorte teve de ser feito 10 vezes. Esses atributos de efeitos práticos seguem por todo o filme, que possui sequências de ação impressionantes para a época.  

“Havia cinco fotos da rocha de cinco ângulos diferentes - cada uma feita separadamente, cada uma feita duas vezes - então Harrison teve que correr com a rocha dez vezes. Ele ganhou dez vezes - e superou as probabilidades. Ele teve sorte - e eu fui um idiota por deixá-lo tentar”, escreveu Spielberg. 

Assim, somado a um roteiro cativante e bom humor que circunda toda a franquia, os elementos são bem dosados e equilibram a obra de coadjuvantes cativantes. 

Em “Os Caçadores da Arca Perdida”, dito por muitos como o melhor dos cinco filmes, as introduções aos personagens são todas dinâmicas e não atrapalham o roteiro. Não há uma preocupação, por exemplo, de se dizer quem é Indiana Jones, de onde veio e como se alimenta. Simplesmente é posto que ele é um professor e arqueólogo caçador de relíquias muito experiente, convocado pelo exército americano em 1936 para encontrar uma fonte de poder quase ilimitada antes que os nazistas: a arca da aliança. 

A ação e as sequências de descobertas de Indiana, bem como sua interação com Marion Ravenwood - par romântico interpretada por Karen Allen - fazem do filme sempre uma crescente. As lutas são quase sempre meio cartunescas e se vestem de “liberdades poéticas” e até cômicas, mas que são coerentes com o tom do filme. 

Como dito, a capacidade de Spielberg de criar ambientes de tensão é um fato impressionante. Cenas inicialmente inocentes, acabam recebendo essa tensão elementos simples e resoluções interessantes de roteiro, como quando Indiana Jones está para comer um alimento envenenado, mas é salvo por Sallah (John Rhys-Davies).  

No final, o filme com orçamento de U$S 20 milhões faturou nos cinemas US$ 389,9 milhões, e foi um marco entre os filmes de aventura. 

“O nome dele é Dr. Jones”

A sequência de Os Caçadores da Arca Perdida foi lançada em 1984 e, na verdade, não é uma sequência, pois se passa em 1935 - um ano antes do primeiro longa. Desta vez, Spielberg apostou em uma abordagem com vilões, em tese, mais viscerais. 

Nessa história, Indiana Jones acaba indo parar na Índia junto com o jovem Wan Li (Ke Huy Quan), conhecido como “Short Round”, e a cantora Willie Scott (Kate Capshaw). Apesar de divertido e com um conceito interessante para os antagonistas, o segundo longa acaba se servindo de resoluções mais simplórias. No entanto, a narrativa possui um apelo emocional mais forte, visto que trabalha com crianças.

Ao mesmo tempo, o filme explora uma cultura mais distante do ocidente, que possui suas próprias riquezas e crenças e podem gerar um maior impacto. 

Não há dúvida, porém, que o grande brilho do filme acabe sendo a relação de Indiana Jones com Li. Assim como no primeiro filme, as coisas não se preocupam em ser explicadas, e os dois simplesmente se conheceram. Essa liberdade que o filme se dá é um diferencial para poder trabalhar questões e aprofundar relações sem precisar ser tão expositivo, algo que o cinema de hoje carece. 

E logo nos primeiros minutos de filme, mais uma vez, Spielberg trabalha a tensão, em que Indiana Jones corre contra o tempo para conseguir um antídoto para o veneno que ingeriu sem querer em meio a tiroteiro e porradaria. O segundo longa faturou U$S 333,1 milhões. 

“Nazistas…”

O terceiro filme de Spielberg, diferente do segundo, possui mais camadas e se preocupa em contar um pouco mais da história de Indiana. É nos seus primeiros 10 minutos que é revelado a inspiração do personagem para usar a jaqueta de couro, o chapéu e sua arma principal e marcante, o chicote em um flashback em 1912. 

O longa responde muitas perguntas sobre a vontade do personagem ser arqueólogo, e sua relação com o pai, Harrison Jones (Sean Corney), que passou a vida buscando pelo cálice sagrado de Cristo, que possui a dádiva da imortalidade. 

Após as explicações com direito à luta de vagão em vagão de um trem de circo, a sequência passa de 1912 para 1938, em que Jones parte para resgatar seu pai que foi sequestrado, adivinhe… por nazistas! 

Como os outros dois, as relações entre personagens são muito boas, e tendo em vista que aqui se apresenta o pai de Indiana, as expectativas seriam ainda maiores. Spielberg não erra a mão, e entrega um dos melhores textos entre os dois personagens. 

É facilmente um dos melhores filmes da franquia junto ao primeiro, e as cenas de ação são tão quanto "Os Caçadores da Arca Perdida”. Com mão mais solta, as piadas tomam mais espaço e são muito bem-vindas, e os trejeitos de Indiana estão mais evidentes do que nunca. 

Aqui fica destacado uma característica que Spielberg trabalha com os antagonistas que, inclusive, irá se repetir em “A Caveira de Cristal” e que foi utilizado no primeiro longa. A própria ambição e prepotência desses personagens são motivo da própria ruína. É interessante e a perspicácia do roteiro torna o recurso muito natural e crível. 

A história ainda traz de volta Sallah e dá mais destaque ao Dr. Marcus Brondby (Denholm Elliott), que tem uma crescente na segunda metade em diante. Lançado em 1989, o filme quebra a barreira dos US$ 400 milhões e chega a US$ 474,2 milhões. 

“Vai terminar os estudos!”

O quarto filme da franquia seria lançado somente em 2008, e marca o retorno de Indiana Jones às telas de cinema. À época o filme sofreu críticas negativas, mesmo obtendo uma bilheteria de quase US$ 800 milhões.  

Olhando em retrospecto, talvez as hype e o hiato de quase 20 anos tenham feito mal para a receptividade dos fãs. Apesar de ser espalhafatoso na conclusão, com CGIs e um disco voador gigantes, coisas que a saga nunca precisou para funcionar, o filme tem seus méritos e segue em uma toada coerente com os outros três. 

A direção de Spielberg continua divertida e dinâmica e para Harrison Ford a idade não é nada. A primeira cena de ação já traz o ar de nostalgia com direito a ver a arca da aliança mais uma vez. Logo em seguida, a memorável explosão nuclear em que Indy entra em uma geladeira, sai voando e sobrevive. Além da tensão, na qual a atuação de Ford entrega tudo, toda a concepção da cena, por mais irreal que seja, é criativa e divertida.

Há outras coisas, já meio desnecessárias, como se balançar em cipós feito o Tarzan, como faz Mutt Williams (Shia LaBeouf), mas enfim… tudo passa.

O roteiro também mexe bastante com o status quo do protagonista, trazendo um filho e reatando a relação amorosa de Indy com Marion - que foi uma ótima escolha. É interessante revê-los, inclusive, em um novo espaço, no caso na Amazônia, e na década de 1950. 

O mistério ao qual Indy se debruça e a forma como ele avança para a resolução dos fatos é uma das mais satisfatórias também. Um choque é que nos primeiros três filmes, admitia-se o misticismo, com a arca atirando raios, pedras sagradas que pegam fogo e água que cicatriza tiro, mas aqui se tem o elemento ficção científica, com seres vindos de outra dimensão. A verdade é que, nesse sentido, a franquia sempre se deu liberdade de explorar, por mais que alguns fãs acreditem que o grande mistério do quarto filme não converse com os demais.

A conclusão é satisfatória, e como os demais, deixa pairar um ar de otimismo que se justifica. É um filme que, com o passar do tempo, mais ganhou notoriedade que perdeu e, apesar sofrer com a ideia de indústria mainstream, ainda assim consegue suplantar algumas limitações, sobretudo de roteiro, com a direção de Spielberg. Os quatros filmes estão disponíveis pelo Disney Plus.