Publicada originalmente pela Marvel Comics em doze edições, a HQ Visão conta com roteiros do renomado Tom King (Batman, Sr. Milagre), e desenhos de Gabriel Hernandez Walta (Doutor Estranho) e Michael Walsh (Hammer Of Justice), exclusivamente na edição de número sete. No Brasil o material fui publicado pela Panini em dois encadernados de luxo capa dura; o primeiro chamado “Pouco Pior Que Um Homem”, contando com as seis primeiras edições. Já a segunda chamada “Eu Também Serei Salvo Pelo Amor”, que reúne as outras seis últimas edições.
Roteiro
A história gira toda em torno do Visão que agora possui uma família, vivendo em sua nova casa com sua esposa Virgínia, seu filho Vin e sua filha Viv. Visão tenta portar-se como um pai de família perfeitamente normal e feliz, sua esposa assume as tarefas de casa e Vin e Viv vão todas as manhas para a escola. Entretanto, a forma American Way Of Life não funciona tão bem para os androides, e cada um deles tenta encontrar seu espaço em meio a esse desconforto.
A leitura exige um conhecimento mínimo de quem é o Visão para um melhor aproveitamento da obra, visto que mais para as últimas edições, o autor retoma um pouco da cronologia do personagem e seu histórico com a Wanda (Feiticeira Escarlate). Mas felizmente ela não é crucial para o entendimento do todo.
É muito interessante o desenrolar da história e a forma como momentos extremamente bizarros acontecem de maneira que sejam coerentes com o contexto. Tom King trabalha muito bem o desenvolvimento e a evolução de cada membro da família, tornado cada um deles muito humano. Ele pontua temas de maneira delicada, mas que se fazem muito presente na sociedade, como o Bullying que os irmão sofrem na escola, essa falsa imagem que a família Visão tenta passar para os demais, o preconceito e principalmente a auto aceitação.
Efeito bola de neve
A forma com que todos os atos da família acabam se tornando uma bola de neve inevitável e a situação que cada um chega, faz com que o enredo tenha uma carga emocional muito forte.
Edição após edição, o drama que a família vive vai cada vez mais instigando a curiosidade, de forma a tornar a leitura fluida, apesar de não ser rápida. Ao mesmo tempo faz com que cada diálogo ou quadro de pensamento se faça extremamente importante para a empatia do leitor com os personagens.
No geral, é uma leitura densa, pesada, não pela violência gráfica, mas pelo sentimento que ela passa e por acertar tão bem o feeling de quando a obra foi lançada e a realidade da sociedade nos dias de hoje.
Arte
Walta se sai muito bem em Visão. Como a história tem um apelo dramático muito forte, as expressões faciais das personagens precisam ser bem críveis para causarem impacto, e isso está muito bem feito no quadrinho.
Além disso, os momentos de violência gráfica ou que tem sangue presente são bem sujas; o que contribui para demonstrar a gravidade dos fatos e/ou até mesmo o desespero daqueles presentes na cena.
Os posicionamentos de quadros estão muito condizentes com a linguagem da obra, e as cores serviram tão bem quanto uma luva. A parte gráfica do quadrinho não deixa em nada a desejar do resto da história, muito pelo contrário, elas se conversam e completam. Merece também aqui um destaque para as capas de Michel Del Mundo e Marco D`Alfonso, são todas muito bonitas. Cabe ressaltar também, que na edição sete, na qual o desenhista é alterado. Aparentemente ocorre por intenção e estratégia de como contar o enredo, visto que faz relação com um Flashback do Visão. Infelizmente, a arte destoa um pouco do resto, porém não se torna comprometedora para a experiência de quem está lendo.
Considerações Finais
Visão, é um clássico moderno. Dentre tantos materiais medíocres e monótonos saindo no mercado hoje, essa HQ chega com uma proposta diferente, mais reflexiva e cumpre seu objetivo de maneira brilhante. Um quadrinho que deixa um legado muito positivo para novas obras que estão por vir e que pode gerar muita discussão sobre a sociedade atual. Denso, inteligente e simplesmente brilhante.